
Diretor da Associação Ministerial Rhema, nos Estados Unidos.
Vamos falar sobre o relacionamento de Paulo com a Igreja em Corinto. Paulo fundou essa igreja durante sua segunda viagem missionária, período em que permaneceu ali por 18 meses. Já em sua terceira viagem missionária, ele escreveu uma carta dirigida a essa igreja. Logo após sua saída de Corinto, diversos mestres aram a questionar seu caráter, sua mensagem e seu chamado ministerial.
Mais tarde, ele recebeu boas notícias de Tito: os coríntios haviam acolhido a correção e se arrependido. Como resposta a essa mudança, Paulo escreveu a segunda carta aos Coríntios. Nesta, Paulo reafirma seu chamado como fundador daquela igreja, o que lhe dava autoridade para tratar não apenas de questões doutrinárias, mas também de assuntos istrativos e pessoais.
Chamado ministerial
Diferente de outras cartas, aqui ele compartilha mais sobre sua própria história. Trata-se da carta mais pessoal que temos, uma verdadeira revelação do coração do apóstolo Paulo.
O livro de 2 Coríntios é especialmente relevante para nós que estamos no ministério, pois é nele que Paulo expõe seu coração, sua atitude e seu estilo de vida como ministro do Evangelho.
“E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação)” (2 Coríntios 6:1,2).
Essas cartas servem como modelo para todos os ministros. Em primeiro lugar, Paulo nos lembra que somos cooperadores de Cristo. Como ministros do Evangelho, não atuamos de forma independente — não somos freelancers espirituais. A nós foi confiado o ministério da reconciliação, e essa responsabilidade deveria nos impulsionar com urgência e propósito.
Graça
Logo no início do capítulo, Paulo faz um alerta: é possível receber a graça de Deus de maneira vã. Essa afirmação deveria nos despertar. A graça exige uma resposta ativa da nossa parte, pois, sem isso, ela corre o risco de se tornar infrutífera. Uma das maneiras de tornar essa graça vã é não valorizarmos o tempo presente, vivendo sempre com os olhos no amanhã. No entanto, a graça de Deus está disponível hoje. Quando corremos atrás da graça de um “amanhã” idealizado, corremos o risco de perder o que Deus está fazendo agora e, com isso, tornar tudo vão.
Quem te feriu ontem? Esqueça e perdoe. Deixe para trás tanto os fracassos quanto os sucessos do ado. Viva o hoje! Receber a graça de Deus em vão também é viver e ministrar sem permitir que essa graça nos transforme. É pregar uma mensagem que nem mesmo vivemos. Mas fomos chamados para ser mais do que vozes no púlpito ou na internet — precisamos ser uma mensagem viva!
A graça é multifacetada e, nesse contexto, ela representa a capacitação divina para realizarmos aquilo que, por nossas próprias forças, jamais conseguiríamos. Sem a graça de Deus, eu não estaria aqui. Sem o chamado d’Ele, talvez estivesse dirigindo um trator lá na fazenda. Foi essa graça que me concedeu habilidades e dons — tudo vem d’Ele.
Mas precisamos refletir: será que o nosso chamado se tornou algo comum demais? Será que estamos mais preocupados com os resultados? Será que nos tornamos aqueles que apenas querem fazer, mas não querem se submeter? Ou, ainda pior: será que nos acostumamos com a graça? Esquecemos que ela teve um custo.
Deus nos capacitou
Percebemos que Paulo vivia constantemente consciente da graça de Deus. Em suas epístolas, ele fala repetidamente sobre essa graça, demonstrando o quanto ela era central em sua vida e ministério.
“Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1 Timóteo 1:12).
Perceba que, mesmo sem usar a palavra “graça” diretamente, Paulo faz um claro reconhecimento de que foi Deus quem o capacitou. É por meio da graça divina que tudo acontece. Paulo entende e declara que foi Deus quem o designou para o ministério. Diferente disso, há pessoas que se colocam no ministério por conta própria — mas a graça não acompanha esse tipo de “autochamado”.
“Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12:3).
Neste versículo, vemos que a graça de Deus, ao nos designar, também estabelece certos limites. Muitas pessoas acabam ultraando esses limites e “pisando” na graça alheia, assumindo funções para as quais não foram chamadas. Há coisas que simplesmente não fomos designados para fazer. Temos dons diferentes justamente por causa da graça de Deus. Essa graça distribui diferentes tipos de autoridade e unção, como no caso dos apóstolos, que foram chamados para lançar fundamentos — assim como o apóstolo Bud fez neste ministério.
A graça de Deus não se esvaziou na vida de Paulo porque ele andava em parceria com Cristo. Essa mesma graça já foi disponibilizada a você. Você é quem é, por causa da graça d’Ele. Reconhecer isso deveria eliminar toda forma de competição e comparação. Deus te fez exatamente como você é! Celebre isso!
Em Efésios 3, Paulo afirma que se tornou ministro conforme o dom da graça de Deus que lhe foi concedido. Essa graça, acompanhada do poder que opera eficazmente, nos concede ousadia. Já em Efésios 4, lemos que a cada um de nós foi dada a graça. Eu a chamo de “graça servidora”, pois ela vem acompanhada de um chamado ministerial.
Uma vida correspondente à mensagem
O ministério não é uma carreira, mas uma resposta ao chamamento divino. Não ministramos por mérito próprio, mas pela graça e pelo poder de Deus. Esta é a era da graça — e ela não durará para sempre, enquanto esperamos por circunstâncias ideais. O tempo é agora! Você não está semeando em solo estéril: este é um tempo de salvação. Espere frutos! Ame com intensidade e ministre com urgência.
Quando começamos a “esfriar” no chamado e a nos desgastar, precisamos reavivar o dom que recebemos. É necessário reacender a chama, renovar a graça, porque essa parceria com Deus foi nos concedida justamente por Sua graça. No fim do dia, é você quem precisa se reavivar.
O chamado ao ministério envolve, sim, sofrimento. Há experiências que, por nossa natureza humana, jamais conseguiríamos ar — mas é pela graça de Deus que permanecemos firmes. Não glorificamos o sofrimento, mas, se não o reconhecermos, corremos o risco de sermos surpreendidos em nosso ponto cego, sem entender o que nos atingiu.
Precisamos viver com poder, amor e moderação — e a verdade é que Deus já nos concedeu tudo isso. No entanto, isso requer de nós uma resposta correspondente: reconhecimento e participação ativa. Segundo Paulo, o chamado ao ministério é uma santa vocação. É um chamado honroso — não o despreze. E onde há chamado, há também graça suficiente para cumpri-lo.
“não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado” (2 Coríntios 6:3).
Não devemos ser motivo de escândalo. Se queremos um ministério que cresça, precisamos aprender a arte de não ofender ou escandalizar as pessoas. Isso, é claro, sem jamais comprometer a Mensagem. A cruz, por si só, já confronta o pecador — ela carrega sua própria ofensa. Por isso, não cabe a nós sermos ofensivos na forma como a proclamamos.
A vida de um ministro deve corresponder a sua mensagem. Quando há incoerência entre o que se prega e o que se vive, essa é a maior ofensa de todas.
Paciência é a rainha das virtudes
“Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas; por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem-conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Coríntios 6:4-10).
A primeira característica mencionada nesta agem é a muita paciência. A palavra grega usada aqui é hupomoné, que transmite a ideia de dar e, cultivar e cuidar com ternura. Os primeiros cristãos a chamavam de “a rainha das virtudes”, pois representa uma disposição afetuosa e constante em qualquer circunstância. Repetir as mesmas verdades com amor — o que eu chamo de princípio das mesmices.
Na continuidade do capítulo, observamos três grupos de nove características. Primeiro, há uma lista com nove provações enfrentadas no ministério. Em seguida, vemos nove necessidades do ministério, e, por fim, nove paradoxos — realidades que parecem improváveis, mas se manifestam em nossas vidas ministeriais. Esses três conjuntos estão profundamente interligados com nossa caminhada ministerial.
Para cada uma dessas provações, precisaremos dessa “muita paciência”, pois é por meio dela que somos desenvolvidos.
*Trechos da ministração do dia 22 de maio de 2025, na Conferência de Ministros Centro-Oeste.