por: Rozilon Lourenço
(Trecho do livro Jó e o Sofrimento do Justo)
Quando exercemos o nosso direito aqui, também o exercemos lá. Em Efésios, Paulo fala que a Igreja está assentada “nos lugares celestiais em Cristo Jesus”, e também está “acima de todo principado e poder e potestade”. Satanás está debaixo do domínio da Igreja e só pode ter o que a Igreja lhe der (Ef 1.20.21). O que a Igreja ligar (consentir), será ligado (consentido); o que desligar (não consentir), será desligado (não consentido). Esse é o sentimento. Nossa luta é travada nos lugares celestiais, segundo Paulo ensina: “… porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12).
Como esta é uma verdade eterna e imutável, mesmo não havendo a Igreja propriamente dita naquela época de Jó, os mesmos princípios, por serem eternos, estavam vigentes. Jó era parte da família de Deus; era um homem santo, justo e temente a Deus, algumas vezes colocado na mesma categoria dos profetas
Jó era uma testemunha e, como tal, deveria viver pela fé. Nesse ponto, porém, é que residia o seu problema. Ele tinha uma fé que incluía, em seu bojo, a perspectiva de que poderia subitamente perder tudo. Mais ainda: tinha a fé de que o próprio Deus poderia tomar-lhe tudo. Em função disso, conforme já expressamos antes, Satanás tentou fazer Deus assumir o caráter de “tomador”. Então ele propôs: “Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo o que tem…”. Em resposta, Deus disse: “Eis que tudo quanto tem está na tua mão…”.
Observe que o verbo “estar” (grifado) encontra-se no presente do indicativo. Quando se usa o verbo “estar” nesse tempo verbal, indica-se que aquilo que está, já está. Se alguém diz que “fulano está doente”, o que está querendo dizer é que “fulano já está doente”. Quando Deus diz a Satanás: “Tudo quanto tem está na tua mão”, o que Ele está afirmando é que tudo quanto Jó tem já está na mão de Satanás.
Parafraseando o texto, poderíamos indicar a resposta de Deus como segue: “Espera um pouco, eu não sou o “tomador”. Tu és o “tomador”; o direito de tocar nos bens de Jó já te pertence. Ele crê assim, assim será. Eis que tudo o que ele tem já está em teu poder”. Deus apenas não concedeu poder sobre a vida de Jó, já que esta pertencia ao próprio Deus. Mas não poderia negar aquilo que Ele mesmo dissera, que “o justo viverá da fé”, que aquilo que o justo teria seria proporcional ao que a sua fé determinasse.
Tudo era uma questão de fé. O direito consentido que Satanás tinha sobre Jó era outorgado pela fé que acreditava na possibilidade de perder tudo. Inclusive, a mudança na vida de Jó só veio a acontecer por causa da mudança substancial da fé que ele esposava em Deus. Por isso, no dia em que ele creu diferente, obteve um resultado diferente.